Uns colecionam selos raros. Outros colecionam figurinhas, recortes de jornais. Eu coleciono abraços. Dos tantos, poucos são os sinceros e dignos de nota. Tem o abraço amigo - que nos dá um norte nos momentos difíceis. O abraço de despedida, solene, com muitas delongas. O último abraço - Lembro-me bem dos últimos que dei em minha mãe e em meu avô. Desses, eu nunca vou esquecer. O abraço de perdão. Demorado, que por vezes molha-nos os ombros. Nem sempre é fraternal; Há também os abraços lascivos em que um tenta transpassar o outro. São abraços que nos tragam e fulminam. Existe também aquele abraço de praxe que se distribui nos natais e viradas de ano. Abraços em série, dados nem sempre com o mesmo calor lá pelo vigésimo, trigésimo conviva da festa. Há o abraço do reencontro - em que a distância tende a desaparecer numa fração de segundos e cabe o infinito dentro de um gesto. O abraço de pêsames - o abraço que, acredite, ninguém desejaria receber. O abraço de urso - eufórico, apertado, que nos esmaga e deixa um tanto constrangidos e atrapalhados e vem quase sempre daquela tia que não vemos a muito tempo ou daquele amigo mais efusivo. O abraço acolhedor, que ganhamos quando alguém nos vê chorando. O abraço coletivo, que acontece quando a alegria é de muitos. E, por fim, o abraço da pessoa amada: inimitável, cuja fórmula desconhecemos. Uma espécie de narcose que nos entorpece. Qualquer coisa entre o arrepio e o acalanto; Estranho abraço que nos prende e nos liberta.
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